27 de outubro de 2009

O raro peixe da Dalmácia


 
Adaptação do Capítulo IV – A Cidade e as Serras
por Angélica

À José Fernandes, uma noite, Jacinto anuncia “uma festa no Campos Elíseos, 202, por causa do Grão-Duque Casimiro, que lhe ia mandar um peixe delicioso e muito raro que se pesca na Dalmácia”. Em vez de almoço, o Grão-de-Duque reclamou uma ceia. Serviu-se um Porto de 1834, envelhecido nas adegas do avô Galião. O primeiro serviço: consommé frio com trufas. Vinho branco, Chateau-Y. E esperava-se agora o “peixe famoso da Dalmácia, o peixe de S.Alteza, o peixe inspirador da festa!” Eis que o mordomo “balbuciou uma confidência a Jacinto”: o elevador dos pratos, ao subir o peixe de S.Alteza, inesperadamente se desarranjou e ficou encalhado. Todos os esforços foram em vão: o peixe permanecia na travessa, em baixo, na treva, entre rodelas de limão, “numa inércia de bronze eterno”. O peixe foi abandonado.
Quebrando o silêncio do palacete 202, José Fernandes surpreendeu a todos com palavras que soaram bem aos ouvidos de todos os convidados, e acalmou o coração do anfitrião, Jacinto.
José Fernandes tinha aprendido com a sua avó a fazer uma receita o qual era passada de geração a geração com toda a pompa da época de Luis IV, Salmão C’ ét Magnifique.
Enquanto o prato era preparado, salmão fresco com meio limão, molho de endro, sour cream, maionese, leite, alho, sal e pimenta, os convidados se refrescavam com vinho e conversas paralelas.
José Fernandes deu instruções devidas ao mordomo que em poucos minutos tentava solucionar o problema.
As chamas das velas salpicavam a sala enquanto se escultava ao fundo os cascos dos cavalos bailando pelo paralelepipedo.
Jacinto começou a ficar inquieto com a situação e com a troca de olhares dos convidados à espera do prato principal. Eis que chega da cozinha um aroma tão único que o próprio Grão-de-Duque reconheceu a riqueza do prato.
O mordomo avisou Jacinto que finalmente o prato seria colocado à mesa e todos embebidos com o perfume do salmão foram se servir.
Já sentados, o prato foi colocado à mesa enquanto os talheres de prata repousavam ao lado da porcelana e os copos de cristais eram enchidos com vinho de ótima safra.
O salmão derretia na boca, enquanto vinhos e borbulhas de champagne davam um charme ao 202.
Prato saboroso, contemplaram todos os convidados, principalmente o Duque e Jacinto.
Aquela noite no salão ficou marcado pelo gosto requintado de José Fernandes, e a cortesia e a elegância de Jacinto.

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